Seis cidades da região somaram 42 mortes por SRAG em março de 2020. No mesmo mês de 2019 foram seis.
O número de mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Alto Tietê foi sete vezes maior em março deste ano,em comparação com o mesmo período de 2019, de acordo com um levantamento realizado pelo G1.
Ao todo, Arujá, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Itaquaquecetuba, Poá e Suzano, somaram 42 mortes por SRAG em março de 2020. No ano passado, foram seis no mesmo período. Até o dia 24 de abril, a região já havia registrado 89 mortes por síndrome respiratória. No mesmo dia, as mesmas cidades tinham registrado 35 mortes confirmadas por Covid-19.
As prefeituras de Biritiba Mirim, Mogi das Cruzes, Salesópolis e Santa Isabel também foram questionadas, mas não responderam.
Como a síndrome é uma das consequências do novo coronavírus (Covid-19), o número pode indicar a subnotificação dos casos da doença.
Para o pneumologista Marcelo Rabahi, professor da Universidade Federal de Goiás, o dado deveria ser levado em consideração. “Quando a gente caracteriza essa síndrome respiratória, a gente está considerando a possibilidade de um agente etiológico infeccioso, no nosso cenário atual, seria o coronavírus”, declara.
Suzano foi a cidade com o maior número de mortes por SRAG e também a que teve o maior aumento em comparação com o ano passado.
Segundo a Prefeitura, o município não teve nenhuma em março de 2019, mas registrou 19 no mesmo mês deste ano. Em abril foram outras 11, totalizando 35 desde o começo de 2020.
Em Itaquaquecetuba, que também não teve mortes por síndrome respiratória no ano passado, foram 10. Entre janeiro e abril, o município acumula 32 óbitos por SRAG.
Além dessas, Poá também não teve falecimentos causados pela SRAG em março do ano passado. Porém, a cidade registrou cinco ocorrências no mesmo período neste ano. Até 24 de abril eram 11 casos, de acordo com a Prefeitura.
Ferraz de Vasconcelos, que teve uma no ano passado, registrou sete em 2020 e acumula oito de janeiro a abril. Já a Prefeitura de Guararema informou que foram duas neste ano, mas não especificou em quais meses. Não houve nenhuma em 2019.
Arujá foi a única cidade que teve redução nos números: de cinco em março do ano passado, foi para um neste.
Mortes por síndrome respiratória aguda grave em março no Alto Tietê
CIDADE | 2019 | 2020 |
Arujá | 5 | 1 |
Birtiba Mirim | – | – |
Ferraz de Vasconcelos | 1 | 7 |
Guararema | 0 | 0 |
Itaquaquecetuba | 0 | 10 |
Mogi das Cruzes | – | – |
Poá | 0 | 5 |
Salesópolis | – | – |
Santa isabel | – | – |
Suzano | 0 | 19 |
TOTAL | 6 | 42 |
Fonte: Prefeituras
Rabahi explica que o conceito de síndrome respiratória aguda grave foi instituído durante a epidemia da gripe H1N1. Na época, os pacientes evoluíam rapidamente com um quadro de falta de ar e demonstravam um esforço respiratório intenso.
Os sintomas serviram de parâmetro para para que os profissionais de saúde identificassem a presença de um agente infeccioso, como um vírus, e atuassem mais rapidamente.
“Como isso ficou associado aos casos de H1N1, que era como uma síndrome gripal associada a uma insuficiência respiratória, [agora] começaram a notificar porque o aparecimento desses casos poderia sinalizar uma epidemia infecciosa, como foi naquela ocasião”, explica.
“Com os primeiros casos de SRAG desse ano, ligou-se rapidamente o alerta porque já existia a pandemia do coronavírus. Digamos que não houvesse uma pandemia do coronavírus, o aumento desses casos ia sinalizar para que a gente procurasse a causa”.
Ele explica que uma das problemáticas da SRAG é que ela surge em estágios muito avançados da Covid-19, quando o vírus Sars-Cov-2 já desceu para os pulmões e pode não ser identificado nos testes que coletam secreções da garganta ou do nariz.
Por isso, o pneumologista reforça a importância da testagem precoce. “É a falta de testes em um indivíduo com poucos sintomas, é disso que a gente precisa. Se ele tem poucos sintomas eu vou monitorá-lo. Se eu não testei [o paciente] no momento em que poderia ser positivo, se eu não acompanho ele, ele vai ficar grave lá na frente, eu vou tentar testar e o rendimento do teste será menor. Ele morre em 24, 48 horas, eu não posso fazer autopsia, é enterrado e acabou”, afirma o especialista.
Marcelo concorda que o aumento do número de mortes por síndrome respiratória, diante de um cenário mundial de contaminação pelo coronavírus, acende um alerta. Segundo ele, o fenômeno, de âmbito nacional, deve ser observado pelas autoridades.
“Talvez, e eu acredito que algumas autoridades estejam considerando isso, seja pegar os casos de síndrome respiratória grave e se embasar por eles, não pelos confirmados de Covid. Nós pecaríamos pelo excesso, mas nesse momento, talvez, fosse mais prudente”.
“Compare o gráfico desse ano com o do ano passado. O aumento é absurdo, realmente, e esse é o número mais real para a gente. Esse número, quando a gente olha, é o número de Covid-19 no nosso país. Você pode pensar que não é tudo Covid, mas 90% é”.