Pesquisa aponta que fevereiro desse ano apresentou maior percentual de famílias com contas em atraso desde março de 2010.
Uma pesquisa nacional de endividamento e inadimplência do consumidor feita pela Confederação Nacional do Comércio de bens, serviços e turismo, aponta que fevereiro de 2022 apresentou o maior percentual de famílias com contas em atraso, na comparação feita desde março de 2010.
A pensionista Helena Josefa da Conceição reflete o resultado da pesquisa. Ela é o retrato da maioria dos brasileiros nos últimos 12 anos. Aos 68 anos, ela nunca se endividou a ponto de ter o nome sujo na praça. Situação que mudou no fim do ano passado quando resolveu financiar um carro para o neto e ele só pagou três parcelas. “Eu tenho que fazer um acordo porque senão tenho que pagar R$ 10 mil. E eu não tenho esses R$ 10 mil para pagar.”
A ajudante geral Célia Maria Porto afirma que antes as coisas eram mais fáceis. “Que era mais barato as coisas, agora tá tudo caro. E a gente não consegue pagar. Tem que parcelar, é perigoso sujar o nome.”
De acordo com a pesquisa, 27% dos lares estão inadimplentes. O aumento é de 0,6% em relação a janeiro, e de 2,5 na comparação com fevereiro de 2021. Os resultados também mostram que, o percentual de famílias com dívidas a vencer, como cartões e empréstimos atingiu 76,6% em fevereiro, retomando o nível apurado em dezembro de 2021.
Para o economista William ramalho Feitosa o parcelamento fácil é uma das principais causas do endividamento. “Cartão de crédito, sem dúvida, é um grande problema. E que se pese as mudanças que tivemos nos últimos anos. E cheque especial. Uma pessoa não consegue satisfazes todas as suas necessidades com o recurso que tem, então ela faz um gasto a mais, além do seu orçamento na esperança que vai ter meses, um futuro melhor, para manter o padrão de vida e vem o desemprego seis meses depois e aí ela não tem como pagar. E isso vira uma bola de neve.”
A pesquisa também mostra que esse endividamento e inadimplência cresceram entre os dois grupos de renda pesquisados. Nas famílias com ganhos até dez salários mínimos, o percentual de endividados aumentou 0,4 ponto percentual chegando a 77,8%. Já na parcela com renda acima de dez salários mínimos, a proporção de endividados alcançou maior patamar histórico, 72,2%, com incremento anual de 10,1 pontos.
Para o almoxarife Renan Felipe Ferreira da Costa as coisas pioraram ainda mais com a pandemia, hoje até o básico está difícil manter. “As coisas sobem tudo, então você tem que cartão, é água, luz, telefone é tudo. Subiu e a dívida aumentou muito.”
Para quem está endividado ou está lutando contra os números a dica é uma só. “Saber quanto ela tem de fato, realmente recebe e tentar colocar dentro desse orçamento as despesas. O que é sempre um desafio. Reduzir o que for possível reduzir, ampliar a receita quando for possível com um segundo emprego ou outra atividade. Orçamento dentro do que ela recebe. Se ela conseguir fazer isso aí ela pode passar para o passo seguinte que é rediscutir as dívidas que ela já tem”, orienta o economista.